terça-feira, 17 de junho de 2008

OPINIÃO

A cota das mulheres – Paulo Santos
A deputada Iraê Lucena (PMDB) disse a este portal que as mulheres “não estão querendo participar do processo político, neste ano”. Por isso os partidos estão com dificuldades para preencher a cota de 30% reservadas ao sexo feminino. Será que a parlamentar peemedebista utilizou o verbo correto? Pode ser que a questão não seja “querer”.
Talvez as mulheres estejam inibidas, nestas eleições municipais, por fatores desconhecidos que os partidos deveriam pesquisar. Poucas têm a condição de participar do processo político como têm a própria Iraê, Socorro Marques, Francisca Motta, Olenka Maranhão e Paula Frassinete, para citar apenas as que ocupam cadeiras nos legislativos.
Ponto um: os partidos somente se preocupam com o preenchimento das vagas quando as eleições se aproximam. Durante o intervalo entre um pleito e outro as agremiações partidárias sequer lembram que as mulheres têm oportunidade de participar da corrida eleitoral, seja para as Prefeituras ou para as Câmaras.
Ponto dois: os partidos políticos paraibanos são essencialmente masculinos e as mulheres os compõem, quase sempre, para referendar a cultura machista. Quem não lembra do caso das deputadas Lucinha Monteiro e Édina Wanderley que cumpriram mandatos na Casa de Epitácio Pessoa enquanto seus maridos eram prefeitos? Hoje os maridos são deputados.
Respeite-se a opção de ambas porque, enquanto desempenharam seus papéis na Assembléia Legislativa, o fizeram com plena liberdade de ação, mesmo que soubessem de que suas passagens ali seriam efêmeras e não longínquas, como as de Iraê, Motto e Olenka que já têm mais de um mandato.
Pode parecer simplório ou demagógico dizer que as mulheres precisam participar do processo político. É bom acrescentar: sobretudo porque ainda se precisa de uma dose – mesmo mínima – de idealismo na política. Muitas que conquistaram mandatos – em níveis federal, estadual e municipal – atuaram como homens que não souberam honrar o voto popular.
Não é o sexo que determina a qualidade do político, do médico, do jornalista, etc. É o caráter. Aí é que se percebe a necessidade de alargar os horizontes femininos nessa atividade, num Estado que nunca teve uma Governadora, encravado num país que nunca elegeu uma Presidente da República.
Se for para eleger mulheres com caráter igual ao da maioria dos homens que fazem política neste país é melhor deixá-las em outras profissões, anônimas, mas prestando serviços à população de forma positiva. A mulher não deve apenas cumprir a exigência das cotas, mas oferecer uma cota de sacrifício para melhorar a atividade política.

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