segunda-feira, 9 de março de 2009

OPINIÃO

UMA GRANDE LIÇÃO
Há muito um gol não me emocionava. Acho que a última vez que isso aconteceu foi assistindo, na área de lazer da casa de Manuel Raposo, a um Flamengo e Vasco no qual Petkovic marcou de falta, também no finzinho do segundo tempo, dando o tricampeonato ao Mengo. Depois disso, só emoções contrárias, como a do gol da França quando Roberto Carlos ajeitava o meião.
O gol que me reconciliou com a emoção foi neste domingo (8), marcado por Ronaldo no empate do Corinthians com o Palmeiras. Não porque a jogada tenha sido extraordinária (escanteio é sempre a mesma porcaria) ou porque a cabeçada de Ronaldo tenha sido um primor (Pelé tem milhares delas muito mais bonitas).
O sentimento vem da grande lição contida naquele gol. Só uma pessoa obstinada, convicta no seu poder de recuperação, é capaz de proporcionar uma alegria daquela não apenas aos corintianos, mas aos sãopaulinos, aos flamenguistas, aos vascaínos ou para qualquer torcedor que tenha tanto respeito pelo ser humano quanto pelo profissional. O jogador sai de campo, mas a pessoa fica para a eternidade (é para isso que existem DVDs, etc.).
Ronaldo não me emociona como artilheiro porque isso ele já foi. Como Garrincha, que um dia vi entrar em campo inchado, sem ser sequer a sombra daquele endiabrado ponta do Botafogo e da Seleção. É aí que começam as diferenças entre um e outro: Garrincha definhou à medida que o álcool o desmontava, enquanto Ronaldo se desmonta como homem, mas ressuscita como jogador a cada contusão.
Depois do gol, um desses garotos do Corinthians sapecou um beijo no rosto de Ronaldo quando voltavam para o meio de campo. Era a circunflexão de um jovem a um ídolo, mas foi a síntese de tudo o que os brasileiros gostariam de ter feito neste domingo: beijar a força de vontade, a determinação, a capacidade de superação. Qualquer outro atleta que tivesse caído em campo se contorcendo de dor, com as contusões de Ronaldo, hoje estaria em casa já vivendo do que amealhara na carreira, mas com o atacante do Corinthians a vida está lhe dando outra oportunidade: quando parar de correr atrás da bola pode ir aos auditórios e bradar que superação era com ele mesmo. Que isso sirva de exemplo para todos, principalmente para os mais jovens, atletas ou não.

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