segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A HORA DE SAIR

Creio que foi no início da década de 70 que vi Garrinha, o gênio das Copas de 58 e 62, dentro de campo e com a camisa do Fluminense. O excepcional jogador mantinha as pernas tortas, mas sem mobilidade porque a obesidade já o dominava por conta – soube depois – do alcoolismo.
Anos depois assisti a despedida de Pelé, o maior de todos, dos gramados futebolísticos. Era temporário, pois logo depois assinou contrato com o Cosmos (EUA) para compor uma estratégia de marketing. O “Rei do Futebol” é Midas nessa área: onde está, tem dinheiro na jogada.
Esse preâmbulo, entretanto, não é para ressaltar se Pelé se tornou rico e se Garrincha morreu pobre. É, na realidade, para mostrar que Pelé saiu na hora certa, sabia das limitações e foi jogar em outra seara, que requer menos preparo físico e mais intelecto.
Saber sair de uma atividade é como saber terminar um discurso: faz bem a si próprio e aos outros. Talvez aí é que residam todos os problemas do atual presidente do Senado, José Sarney, que não soube sair da política na hora adequada.
Sarney tem muitas passagens que outros homens públicos jamais poderão colocar no currículo. Foi Presidente da República quando a cadeira hoje ocupada por Lula ficou à deriva com a morte de Tancredo Neves e soube, com paciência franciscana, comandar a transição entre o fim da ditadura militar para as eleições diretas do seu sucessor.
Quem viveu aquela época não esquecerá, jamais, a estúpida inflação que corroia todos os alicerces da economia, principalmente os salários do trabalhador. Foram muitos “planos econômicos” até se chegar ao bendito Real de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Ao passar a Presidência para o pavão Fernando Collor de Mello, Sarney deveria ter “pendurado as chuteiras”, ter-se recolhido à Ilha do Calhau no Maranhão, ir cuidar do seu mausoléu, dedicar-se à literatura e escrever os artigos semanais para a Folha de São Paulo.
Ele poderia ter solicitado a opinião de quem conheceu José Américo de Almeida que, já cansado das lides políticas, recolheu-se à casa na beira-mar de João Pessoa, transformou- no Solitário de Tambaú, mas continuou influindo na política brasileira e paraibana mesmo fora do proscênio.
Sarney fez o contrário. No melhor estilo coronelista decidiu manter-se na política, avançando pela contramão das perspectivas e da vontade do povo maranhense, tanto que foi buscar vaga de senador no Amapá, deixando os filhos brigando pelos espaços na terra natal.
Sarney hoje come o pão que o diabo amassou. Deixou de dar vez à humildade de saber sair da cena política para, hoje, alimentar o cipoal de denúncias que envolvem seus filhos e netos. O presidente do Senado, que um dia foi considerado gênio da política conservadora brasileira, está mais para Garrincha do que para Pelé.

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