quarta-feira, 23 de julho de 2008

OPINIÃO

TRISTE REINAUGURAÇÃO
Os aeroportos são, em geral, ambientes que contraditoriamente inspiram atitudes alegres ou tristes nas partidas e nas chegadas. Podem ser válvulas de escape para alguns que adoram ver aviões decolando ou aterrissando. Também são espaços que traduzem poderio ou degradação econômico-financeiro de uma região.
O Aeroporto “Castro Pinto” é tudo isso e mais alguma coisa. A começar do fato de ser considerado o “aeroporto de João Pessoa” e não estar localizado em território da Capital, mas nos limites geográficos dos municípios de Bayeux e Santa Rita, distante alguns poucos quilômetros da maior cidade da Paraíba.
Não se sabe quanto os governos federal, estadual e municipais estão gastando nesta quarta-feira (23) para festejar a reinauguração do Aeroporto “Castro Pinto” ou o final de uma reforma que se arrasta há anos, mas seja qual for a gastança apenas resume o prazer pelo desperdício e pelo perdularismo obsolteto.
O que há de tão importante para comemorar num aeroporto reformado que tinha apenas três aterrissagens e igual número de decolagens todos os dias (quando os vôos não são cancelados)? Uma matéria deste portal, ontem (terça-feira, 22), com o pessoal da Infraero, revelou que o aeroporto dos Guararapes, em Recife, tem cerca de 100 aterrissagens e decolagens diárias.
Seria simplório constatar que a inutilidade do aeroporto de Bayeux/Santa Rita se deve ao fato de não termos uma atividade turística exuberante, como acontece com Natal (RN), Salvador (BA) ou Fortaleza (Ce). O problema está na decadência econômica da pequenina e heróica Paraíba, aliada à incompetência política.
Os poucos vôos que ainda teimam em pousar e decolar do “Castro Pinto” devem-se, sobretudo, à necessidade de uso de quem hoje faz a festa: os governos. Não fossem os constantes deslocamentos de autoridades federais, estaduais e municipais para Brasília, para o Sul ou o Sudeste e neste aeroporto só subiriam ou desceriam moscas e mosquitos.
Os problemas têm se agravado com as constantes reformas dos Guararapes e a adaptação do portentoso aeroporto do Recife às exigências dos passageiros nacionais ou estrangeiros, assim como aconteceu em outras Capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, etc. Quem explica tudo é a força da economia.
Imagine-se as companhias aéreas pressagiando a suspensão dos vôos das cidades de Campinas e Ribeirão Preto (ambas em São Paulo) ou de Feira de Santana (na Bahia). É possível que Juazeiro do Norte (CE) tenha mais vôos diários do que João Pessao e isso não será milagre do Padre Cícero, mas a força do turismo.
O “Castro Pinto” está lotado, hoje, na inauguração de sua reforma física. Amanhã, quando a realidade aterrissar, voltará à placidez dos ambientes sepulcrais. Os funcionários da Infraero continuarão fazendo mistério dos dados acanhados e os passageiros do sistema aéreo nacional continuarão se deslocando de carro no trajeto João Pessoa-Recife-João Pessoa.
Amanhã, na divisa entre Bayeux/Santa Rita, pousará imperceptível o espírito de Carlos Drummond de Andrade nos seus versos inesquecíveis: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu”. O “Castro Pinto” voltará à tranqüilidade até que alguém quebre a monotonia e projete uma nova reforma do salão de embarque e desembarque. Reforma da economia paraibana, porém, nem pensar.

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